Um balanço — ou quase
Sim, estamos quase lá: o meio do ano. Já são cinco Previsões do Tempo publicadas pelos redatores da Revista Descompasso e essa feliz empreitada segue dando frutos. Não frutos no sentido material, mas sim no sentido do diálogo: várias foram as previsões que encamparam discussões com o corpo dos redatores, com leitores externos, que instigaram textos e trabalhos por vir. Como toda e qualquer coluna, há sempre um tempo de reflexão, de “por que fazer isso?” ou, melhor, de “isto está dando certo?”. Longe de encontrar essa resposta, nos parece cada vez mais cristalino dizer que, dentre todos os espaços da Revista Descompasso, este, especificamente, foi aquele que mais tornou visível a diversidade dos interesses da revista, a autenticidade dos gostos dos autores e, sobretudo, o motor que é a paixão não só pelos filmes mas pelas artes em geral. Com 2025 chegando à sua metade, cabe um balanço: o que foi publicado, o que está por vir e, sobretudo, o que o campo do cinema tem nos apresentado em suas diversas facetas. Em Maio, Renan Eduardo segue questionando as relações de poder visível através do programa Provocações; Egberto Santana navega pelo TikTok e a mais recente paródia viral de Corra!; Nicholas Correa nos discorre mais uma vez sobre cinema experimental, a partir da oportunidade de visualizar alguns filmes do festival Prismatic Ground; Helena Elias continua em rota de encontro nos passeios entre literatura, cinema e imaginação; Maria Sucar nos traz uma visão sobre Bell Gati; enquanto Rubens Fabricio Anzolin, em uma previsão mais extensa, examina suas dificuldades de leitura com as novas plataformas — Letterboxd e Substack.
Pois bem, como o início do Editorial indica, são já cinco meses desta coluna e, faça chuva ou faça sol, a certeza que temos é de que gostamos de estar aí, escrevendo sobre estes sons e imagens. Esperamos que vocês — leitores — também estejam gostando. Adeus, Maio! Bem-vindo, Junho (com coberturas de festivais na Descompasso)! Nos vemos em breve. Boa leitura.
Paródia com feijoada ou Corra! ao contrário
Por Egberto Santana
A produção de conteúdo com análises de comportamentos se tornou uma das ferramentas mais recorrentes para discutir questões, tendências e problemáticas diversas nas redes sociais. Porém, esse tipo de produção muitas vezes se utiliza de pautas americanas, simplesmente replicando-as para contextos brasileiros, o que soa mais incoerente e contraproducente do que necessariamente interessante. Os argumentos forçados não conversam com nossas particularidades. Mas acredito que as esquetes dos feeds das redes sejam a ponta de lança para essa abordagem. Penso em um recente reels que assisti: uma paródia de Corra!, do Jordan Peele, onde os namorados que se ferram são brancos. O diálogo enumera e relaciona diferentes signos do que enxergamos como o “branco padrão brasileiro”: o ‘shortinho perereca’, a matrícula em Comunicação na PUC e o carro HB20 dado pelo pai. Quando um dos namorados é preso, ele se defende: “sou igual a vocês”. A filha retruca: “você tem mó cor de paçoca”. A presença de um namorado albino confunde a família, mas ele vira mais uma vítima quando relata que tem pai presente. A narrativa original é assimilada com signos, expressões e contradições muito particulares da cultura brasileira e da discussão sobre raça de um certo nicho cronicamente online que desestabiliza as referências ao original. E mesmo estes últimos são justapostos com elementos daqui que não deveriam estar no rol da branquitude (a menção ao Oruam, bebê reborn, albino). As cenas são tremendamente bem elaboradas, com planos próximos nos rostos da família validando o destino dos namorados. Ainda, o terreno é do humor, da paródia, e faz com que a inversão da história sofra mais alterações ao receber o molho brasileiro. Pode até se dizer que a esquete estaria em um Casseta e Planeta da vida, mas ela se arrisca e não pede licença para os seus comentários, o que um programa tradicional de comédia hoje em dia poderia fazer. Não à toa, quando a televisão contrata esses comediantes, é notável o brilho que se perde dentro dos cenários e contratos previamente montados. Não me parece mais tão complexo dizer que a invenção do gênero de comédia brasileira está fervendo nos feeds do Instagram e do TikTok. Jordan Peele não entenderia. Key and Peele não fariam igual.
A vida dura um plano
por Helena Elias
Tenho frequentado um grupo de estudos chamado Grupo Sutura. Acabamos de começar a ler O homem comum do cinema, de Jean Louis Schefer. O que posso dizer? Estou feliz de ter encontrado, enfim, uma teoria do espectador, porque em se tratando de cinema é isso que eu nunca me canso de ser: uma espectadora. Para Schefer, o cinema nos apresenta uma disseminação de sentido tal que nunca pode ser restituída à significação verbal. Ou seja, não é possível descrever com justeza as imagens e os sons, que estão permanentemente abertos e alheios à predicação. Talvez a maior peculiaridade de suas especulações seja dizer que o cinéfilo não dispõe de um saber, mas de um certo uso da memória. A experiência do cinema seria matizada por uma posterioridade inevitável, como se assistíssemos a um filme para aniquilá-lo progressivamente, destituí-lo de seu todo narrativo e deixar imperar uma imagem ou outra: assim sobressaem os nossos sentimentos. O “homem médio” do cinema compõe um pequeno inventário de planos que lhe habitam, e assim o faz Schefer em seu livro. No meu inventário de cenas do último mês perduram alguns planos: como aquele em Céline (Jean Claude Brisseau, 1992) que Céline e Geneviève estão fazendo yoga em um tapete persa no jardim. Antes com os corpos levantados e flexionados, as personagens se curvam lentamente até chegarem à postura da criança. Há uma estranha trama de luz e sombra em cena: as mulheres estão submergidas na penumbra, e, ao mesmo tempo, em frente à iluminação, seus corpos tombam graciosamente de volta ao solo. A luz se dá a ver pela moldura da penumbra. Também penso no vertiginoso plano de segundos em Um homem com um câmera (1929, Dziga Vertov): um parto é enquadrado frontalmente, vemos uma cabeça que entrecorta a vagina de uma mulher. O cordão umbilical é desenrolado rapidamente do pescoço do bebê. Um plano em Noites Paraguayas (Aloysio Raulino, 1982): a câmera acompanha com movimentos laterais o girar em 360 graus de um homem dentro de um brinquedo em um parque de diversões. No som direto ouvimos gritos de criança e vemos a serena feição do personagem no brinquedo. Com suas coleções claudicantes debaixo do braço, vez ou outra os cinéfilos se reúnem. Quando chegam em casa, procuram por partes de filmes que nunca tinham posto reparo. A cinefilia, assim, constrói em conjunto uma lista impossível cujo motor imparável faz imagens se perderem do todo, e ecoarem infinitamente.
Te adoro, Bell Gatti.
por Maria Sucar
Uma batida de carro: terrível acontecimento que possui o magnetismo do olhar. A curiosidade mórbida espera o momento em que o pior acontece. Algo tão constrangedor que a repulsa vira interesse. A autoconfiança, por vezes, é tudo o que se precisa: te apresento o inimaginável, o inaceitável como quem sabe de algo que ainda não sabemos, mas você se vê na posição de pelo menos considerar. Um desinteresse em você — espectador — que te obriga a querer ser notado por aquilo que outrora se fugiria. Fico chocada por que você é mulher ou só porque é maluca mesmo? Se te visse na rua, atravessaria para poder observar de longe. No Puedo Tener Sexo (2024), de Bel Gatti, parece que só pode ser processado por meio de fragmentação, paradoxos e justaposições. Com certeza não é a coisa mais bizarra que o cinema já nos deu, mas talvez uma das mais cruas dos últimos tempos. Uma sinceridade constrangedora que remete àquela ideia da internet que “deveríamos todos sabermos menos uns sobre os outros”. O corpo performa constantemente para a câmera — em vertical e em horizontal —, a desafiando com o olhar nos olhos. O relato é sempre em primeira pessoa,extrapolando o que deveria ser confidencial. Não te demos essa confiança, Gatti, mas você não cala a boca. Agora somos cúmplices e vamos juntas até o final.
Sobre manter as coisas por perto
Nicholas Correa
Do dia 30 de abril a 4 de maio, o festival Prismatic Ground teve sua quinta edição em Nova York exibindo trabalhos experimentais recentes. Acompanhar a mostra online, com uma seleção restrita de alguns dos curtas exibidos presencialmente, é uma das maneiras que o público brasileiro e de outras partes do mundo podem acessar pequenos e preciosos trabalhos que dificilmente chegam a qualquer circuito exibidor (comercial ou não). Na edição de 2025, entre os curtas recentes que tive a oportunidade de assistir estava Winter Portrait de Fernando Saldivia Yanez, um filme singelo e enganosamente simples. Nele vemos um casal do povo Mapuche, em uma sala de estar, assistindo ao vídeo de casamento dos dois. Nota-se que eles foram o primeiro casal a conseguir uma permissão civil para realizar a cerimônia em Mapudungun, sua língua nativa. Excetuando-se alguns planos ligeiros de fotografias afixadas na parede e de um recorte de jornal, o filme consiste quase que inteiramente no mesmo enquadramento fixo da sala de estar. Yanez demonstra uma disciplina aguda quanto à escolha do ângulo, a televisão que transmite a cerimônia se encontra entre os dois sujeitos (que entram e saem de quadro constantemente) e a porta de vidro que dá a ver o quintal da cabana. No desenrolar de alguns minutos percebemos todos esses elementos deslocando nossa atenção; quando o casal sai do enquadramento, a tração das imagens do televisor é tão forte que é possível abstrair todo o restante do plano. Algo que, todavia, é rompido com um som, uma fala no extracampo, alguma menção ao tempo no exterior da casa ou no retorno de alguma figura em cena. É um curta intimista, mas ao mesmo tempo cheio de distâncias implícitas, com a mais evidente delas posta pelo vídeo de casamento, um plano dentro de um plano que rompe com a continuidade “natural” do espaço. Com a porta de vidro e a televisão, são postas duas janelas que dividem o espaço interior aconchegante representado pelo ambiente doméstico de um espaço exterior tanto simbólico quanto imanente na cena. A sensibilidade de Yanez para com essas configurações chega a lembrar a de um fotógrafo cronista do cotidiano, que necessita transmitir a dinâmica de certas relações dentro de um quadro de maneira precisa, mas mantendo a casualidade do registro. É uma sensibilidade cada vez mais difícil de reter diante de uma oferta cada vez maior de imagens e, justamente, em um filme que trata da apreciação daqueles materiais que mais importam. O registro do idioma dos mapuche, de um casamento ou de um momento marcante ainda que fugaz.
O fim das sombras
Renan Eduardo
Desde adolescente me lembro de gostar bastante do programa ‘Provocações’, apresentado por Antônio Abujamra. À época, não conhecia a maioria dos convidados e pouco entendia do que se tratavam as conversas. Entretanto, a figura de um homem já mais velho e de óculos pequenos, de dicção concatenada e voz grave, que recitava poesia sob uma luz que iluminava seu rosto de baixo para cima, enquadrado em primeiríssimo plano, me fascinava de algum modo. Uma figura mítica e monstruosa na mesma intensidade. A atmosfera etérea do estúdio, quase onírica, somado ao atrito entre o entrevistador e o entrevistado, produzia a sensação de que o espectador estava acessando a um mundo oculto dessas duas pessoas. Isto é, um acesso ao entrevistado sem mediações ao que há de mais subjetivo desses sujeitos — talvez a entrevista com Clodovil seja a mais marcante nesse sentido. Dito isso, pouco me interessei no programa desde que foi retomado por Marcelo Tas. Nada contra o apresentador (talvez algumas coisas), mas sempre me passou a impressão de que ele não era provocador à altura do dramaturgo. Ainda assim, assisti a alguns trechos do ‘Provoca’ (o título do programa foi abreviado) com o Djonga e senti que ainda havia possíveis ruídos. Não por parte do Tas, que sempre aparece muito bem iluminado, de rosto limpo e com um figurino elegante, mas sim por parte do rapper, que parece querer se esconder da visibilidade plena. Seus olhos ficavam parcial ou totalmente cobertos, por causa de um chapéu bucket que usava até o meio de sua cabeça, deixando apenas um sorriso sarcástico falar em seu nome. Ainda assim, o tom da conversa é outro. Não se trata mais de acessar o íntimo do entrevistado, e sim quase como uma prestação de contas do que é ou deixa de ser sua produção artística — não à toa o corte mais visualizado desta entrevista tem o seguinte título: “Djonga fala sobre o racismo e explica a frase ‘fogo nos racistas’”. Pensemos na distinta radicalidade que há entre a primeira pergunta feita ao Clodovil (“hoje, você gostaria de ser menos idiota do que é ou de ter sido menos idiota do que foi?”) para a pergunta feita ao rapper (“como é queimar um racista?”). Trata-se de uma distinção quase epistemológica entre a imaginação e a explicação, entre a penumbra e a luz. O mesmo vale para outro ‘Provoca’ que vi recentemente com o Fred (Desimpedidos) Bruno. Em dado momento da entrevista, Tas pede para o influencer “explicar” algumas gírias de boleiro como “resenha”, “marra” e outras. A conversa é tão coordenada e tão desinteressante que até os atritos entre Tas e Fred parecem previamente arranjados. A iluminação, muito mais próxima da sitcom do que da luz expressionista, parece sintomática disso tudo: branca, sem sombras ou ruídos, plenamente visível. Como Jonathan Crary conclui, uma das estratégias do poder é iluminar cidades continuamente, banindo a noite e o escuro — e, com isso, eliminando a possibilidade de sonhar. O mesmo vale para este novo ‘Provoca’, que cada vez tem menos a capacidade de imaginar.

Não aguento mais abrir o Letterboxd e clicar por engano num anúncio da Shopee
Rubens Fabricio Anzolin
Uma conversa com amigos — André Berzagui e Roberto Cotta — me fez refletir um pouco sobre a condição da leitura de textos de cinema hoje em dia. Já adianto que qualquer coisa que escreva aqui não vêm, necessariamente, envernizada num moralismo latente. Não tenho qualquer intenção de prever o que é certo ou errado, verdade ou mentira, etc. São impressões. Fato é que tenho tido cada vez menos interesse — vontade, disposição, cabeça — para acompanhar textos escritos no letterboxd ou substrack. Não se trata necessariamente da qualidade dos textos. Como em todo lugar, existem os bons e os ruins. O que verdadeiramente me traduz uma ansiedade latente é a ordem do excesso. Acessar um substrack é cumprir um contrato não apenas com um texto em si, mas sim com a série de textos que aquele autor produziu — introduzidos paulatinamente na primeira página do site.
O mesmo vale para o letterboxd: ao ler uma crítica ou comentário, a própria rede social lhe oferece, de antemão, uma série de outros comentários curtidos pelo autor. Ou mesmo pode-se ver o julgamento dos seus seguidores (quantas estrelas, corações, opiniões) acerca de determinado filme. Não é, enfim, a dinâmica per se que me incomoda. O que desvia totalmente meu foco é o excesso. Não é possível ler tão somente um texto, um comentário ou mesmo uma lista. Para ler um só texto, é necessário que você saiba que há uma série de outros comentários, outros textos e outras opiniões disponíveis para ler também. Cria-se daí uma lógica cíclica, uma sensação de incompletude. Ler apenas e tão somente um texto não é mais suficiente. É preciso ler o texto, seus comentários, seus textos e links relacionados. Navegar por um universo do excesso, quase como um combo de lanchonete: para ter o hambúrguer, você precisa também da batatinha, do refresco e da sobremesa.
Essa lógica não se parece em nada como a que se fazia com mais costume antigamente. Acessar uma revista de cinema ou um blog encardido de internet para ler algo sobre algum filme. Não é o mesmo que entrar em uma página de tradução para procurar aquele texto em inglês, francês, italiano. O que essas plataformas oferecem, afinal, parece ser uma busca por velocidade: sim, vou ler o que disse “x” pessoa sobre um filme, mas, depois, irei ler também o que ela gostou daquilo que outras pessoas disseram, e, consequentemente, o que essa terceira pessoa gostou que outras tantas pessoas também disseram. Sou péssimo com isso. Respeito quem goste, quem publique, quem destine tempo e esforço para alimentar o seu letterboxd ou oferecer suas visões no substrack. De novo, já li muitas coisas interessantes em ambos os espaços. Mas muito mais perdi o interesse pelo que lia — por conta do excesso de informações e de textos prévios que eu poderia ler — do que permaneci lendo somente um texto.
Não menos importante que isso, perdi o interesse em usar ou publicar nessas plataformas. Nem mesmo o letterboxd me é útil para contabilizar quantos filmes assisti. Sobretudo por sua instituição de vigilância. Por exemplo, assisto muito mais filmes nos trabalhos de curadoria do que na “vida real”. E esses 200, 400, 600 filmes que assisto sequer podem ser logados. Vejo menos filmes, então? Muito provavelmente, não. Muito provavelmente veja bem mais, aliás. Mas de que vale, na lógica da velocidade, ter visto esses filmes, uma vez que eles não podem ser expostos como vistos. A cada fim de ano, quando as programações são fechadas, preciso tirar um tempo para atualizar cada um dos trabalhos que vi e que não poderia ter logado à época. Sendo que há um mínimo de 150 filmes, ou mais, que sequer existem no Letterboxd. Portanto, essa função também se perde, a função de “diário”. Vira algo como: quantos filmes vi enquanto não estava trabalhando vendo filmes?
No fim das contas, o ensejo do tempo parece mesmo servir a essa dinâmica acelerada do comentário e leitura sobre cinema. Tenho cada vez mais a impressão de que a velocidade estabelecida nessas plataformas visa justamente que os textos não durem muito tempo. Você escreve para ser lido hoje — na semana daquele lançamento, na data da retrospectiva de tal cineasta na sua cidade — e uma ou duas semanas depois, quando não um ou dois dias depois, o que você escreveu será esquecido. E aí você se pega pensando: o quanto vale a pena você ler um texto que foi feito com o intuito de entregar algo rápido, para um contexto rápido, e que daqui um ou dois dias não será mais a bola da vez? (É claro que a leitura de um texto nunca é, necessariamente, baseada na pretensão de quem o escreve). Mas sequer tenho tempo de me atualizar com o que foi lançado meses atrás, quem dirá com aquilo que foi lançado agora.
Entendo, por óbvio, que uma dinâmica de lançamento de textos em “imprensa oficial” não é muito diferente disso. É lógico que os materiais produzidos sobre filmes são feitos e planejados para atender às demandas do agora. Mas, pelo menos, em termos de layout de leitura, espaços “oficiais” não parecem conter um excesso tamanho de opiniões ao seu dispor, como é o caso do Letterboxd. Um cardápio tão grande de leituras que, no fim das contas, faz menos com que você leia bem um texto e mais com que você leia apressadamente outros dez textos. Espaços menos interativos, assim digamos, proporcionam (pelo menos a mim) a experiência de ler um texto sabendo que — olha que curioso — estarei lá para ler aquilo. Ou, minimamente, para dedicar os raríssimos segundos de atenção a uma coisa por vez. Como ainda se faz — mesmo que muito pouco — nos já quase extintos blogs e revistas de cinema que existem na internet. Blogs e revistas que, de tão encardidos e anti-tecnológicos, geralmente permitem que você consuma um conteúdo por vez sem lhe oferecer um anúncio a cada quinze segundos — não suporto mais abrir o letterboxd e clicar por engano na página da Shopee.
Em tempo: na dinâmica digital, que, ainda que veloz, permite espaço para atenção a uma ou duas coisas por vez, sigo interessado por ler o que Bernardo Oliveira, Luiz Soares Jr, Andrea Ormond e Acauam Oliveira tem publicado em suas páginas do Instagram. Muitas vezes, encontro uma luz por lá.